Pesquisadores da FGV se reúnem para debater como gerar inovação a partir de pesquisas científicas
Pesquisadores de diferentes centros de estudo da Fundação Getulio Vargas se reuniram no dia 16 de outubro, no Salão Nobre da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), a fim de realizar o Workshop de Inovação e Empreendedorismo para Ciências Sociais e Humanidades.
Norteados pela questão: “como gerar produtos e serviços inovadores para a sociedade a partir de pesquisas científicas?", os pesquisadores se reuniram com o objetivo de discutir estratégias que viabilizem a geração de inovação a partir das pesquisas realizadas pela FGV. Além disso, a discussão servirá de base para a formulação de uma Política de Inovação para a Fundação.
Durante a abertura do workshop, a diretora de Pesquisa e Inovação da FGV, Goret Paulo, destacou que a instituição já desenvolve projetos de pesquisa multidisciplinares com nível elevado de inovação e a tendência é de que este tipo de projeto se multiplique no decorrer dos próximos anos.
"Já estamos desenvolvendo uma série de projetos inovadores, principalmente no que se refere ao desenho e avaliação de políticas públicas. Várias destas políticas trazem significativa contribuição para o desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável do país", declarou a diretora.
O vice-diretor da FGV EAESP, Tales Andreassi, no início de sua palestra apresentou as escalas Technological Readniness Level (TRL) e Societal Readliness Level (SRL) que classificam em níveis de 1 a 9 as etapas de desenvolvimento de uma pesquisa científica até a potencial criação de uma inovação. Entre os níveis 1 a 3, as pesquisas ainda estão no campo do conhecimento científico, enquanto que nos níveis 7 a 9, esse conhecimento já se traduz em produtos e serviços prontos para serem lançados no mercado. De acordo com o vice-diretor, o grande desafio é conseguir superar os obstáculos e efetivamente gerar receitas a partir do conhecimento produzido.
Andreassi também citou exemplos de outras universidades, principalmente as com cursos de Engenharia, que criaram mecanismos para melhor transformar o conhecimento em inovação, com a criação de escritórios de transferência de tecnologia, incubadoras e aceleradoras.
Empreendedorismo na prática
O evento seguiu com a apresentação da FGV Ventures, a aceleradora da FGV EAESP para startups em early stage que já incubou mais de 80 startups desde 2017, das quais 60% delas continuam em operação. Para a coordenadora do programa, Isabel Cruz Pinheiro, é necessário fomentar empreendedorismo ético com alto potencial de crescimento. “Antes a nossa aceleradora tinha foco nos alunos e alumni da FGV, mas atualmente é aberta a todos. Nós somos a primeira aceleradora que nasceu em um ambiente universitário e acredito que possamos pensar em ações conjuntas com os professores para fomentar o ecossistema de inovação da FGV”, declarou.
O empreendedor do Gôndola Segura, Daniel Pascalicchio, apresentou seu negócio que contou com o auxílio da FGV Ventures: Desenvolvimento de agricultura familiar através de um software integrado de sistema de gestão empresarial (ERP SaaS). Relacionado a 4 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – fome zero, emprego digno e crescimento econômico, redução das desigualdades e consumo e produção responsáveis –, o negócio é voltado para promover tecnologias que conectem novas gerações de produtores e aumente a produtividade dos agricultores familiares, mitigando sua alta porcentagem de perda de produtos.
“Enquanto no Brasil o fato de uma startup falir é considerado um ponto negativo, nos EUA isso é visto como algo positivo porque exalta o aprendizado e a tentativa”, disse Pascalicchio ao contar sua história como empreendedor.
O investidor anjo Ricardo Amaral, da FGV Angels, apresentou o programa de investimentos em startups, que conta com cerca de 350 investidores, configurando o maior grupo de investidores do Brasil ligados a uma universidade.
Ricardo explicou aos professores como funciona o processo da FGV Angels. O grupo é composto por investidores individuais, sem a estrutura de um fundo, e a participação requer uma assinatura anual. Eles são responsáveis pela triagem e seleção das startups que serão apresentadas, podendo também assumir a liderança no processo de desenvolvimento das empresas. Além de contribuir para questões estratégicas, como a saída de sócios, a FGV Angels é reconhecida por seu forte networking, abrindo portas para novas oportunidades.
A última apresentação antes do início das oficinas ficou por conta do professor Gilberto Sarfati, coordenador do Mestrado Profissional em Gestão para a Competitividade da FGV EAESP e coordenador acadêmico dos Programas de Alta Gestão da FGV Educação Executiva, que apresentou a ferramenta Canvas e explicou o conceito de Produto Mínimo Viável.
“O que é uma boa ideia de negócio? É uma ideia que resolve o problema de alguém. Uma pesquisa acadêmica também começa com um problema de pesquisa, e não necessariamente a literatura vai apresentar uma dor sentida pelo mercado que pode ser suprida com a pesquisa. Por isso, é necessário que, na concepção de pesquisa, seja levado em consideração a dor do stakeholder. Ter um conselho que ajude nisso pode ajudar nas fases iniciais da elaboração da pesquisa, por exemplo. Antes de pensar ‘o que eu vou ofertar?’, é preciso analisar a necessidade do mercado”, disse Sarfati.
Após apresentar cinco cases de produtos lançados por universidades ao redor do mundo, o professor Sarfati deu continuidade ao workshop com uma oficina prática. Os pesquisadores foram guiados por seis processos de Canvas e frameworks para conceber um negócio. Cada centro de estudo desenvolveu uma ideia focada em um problema, identificando oportunidades e propondo soluções. Em seguida, os grupos trocaram suas ideias e receberam feedback dos outros professores. Na terceira etapa, Sarfati orientou os participantes a refletirem sobre a proposta de valor do produto ou serviço, focando em qual dor do cliente seria solucionada. Além disso, os grupos preencheram um Canvas de Modelo de Negócio para concluir a primeira fase do processo.
Na segunda parte da oficina, o foco foi a validação das propostas. Após estruturarem suas ideias, os professores discutiram formas de validar a viabilidade do produto e se ele realmente resolveria o problema do cliente. Ao final, os pesquisadores apresentaram pitchs sobre suas ideias, e cada centro saiu com uma proposta inicial de como transformar suas pesquisas científicas em produtos ou serviços.
Para a diretora Goret Paulo, “o dia foi muito produtivo, capaz de unir diversas áreas da FGV, no intuito de trazer a inovação e desenvolvimento para as pesquisas realizadas pela Fundação”. A diretora mencionou o NAVE, um edital da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), voltado para startups, que vai destinar R$ 28 milhões em projetos direcionados aos 67 desafios tecnológicos do setor de energia. Goret finalizou as apresentações do dia reiterando que um novo encontro também com o objetivo de fomentar a inovação na FGV será realizado no dia 19 de março de 2025. Em breve, serão divulgadas mais informações.