FGV CPDOC realiza exibição de documentário sobre relação entre cultura e saúde mental
Na tarde de 24 de setembro, pesquisadores e artistas de Manguinhos se reuniram na sede da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, para a exibição do documentário Coisa de Favela. O filme é resultado de uma pesquisa científica realizada em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Queen Mary University of London, através do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS) e a People’s Palace Projects (PPP). O objetivo do projeto é investigar como atividades culturais podem contribuir para a saúde mental da população.
Segundo a coordenadora do projeto pela FGV, Sílvia Monnerat, a pesquisa surgiu da necessidade de pensar a cultura como promotora de saúde. “Em seu conceito ampliado, saúde não é apenas ausência de doença. Envolve fatores mais complexos, como aspectos socioeconômicos e culturais, que impactam diretamente o bem-estar do indivíduo, especialmente em contextos de vulnerabilidade social”, explicou.
O projeto teve início com uma pesquisa em dados abertos na internet em 2022, cujo objetivo era mapear atividades culturais no Complexo de Manguinhos. Localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o território é formado por cerca de 12 comunidades, abriga aproximadamente 40 mil moradores, e apresenta um dos cinco piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade, com altos índices de vulnerabilização social e violência urbana.
Entretanto, o local também é marcado por uma forte organização comunitária e iniciativas culturais que promovem cuidado, resistência e protagonismo local. Ao longo do projeto, foram identificadas mais de 40 iniciativas, que deram origem ao catálogo Estratégias Culturais em Manguinhos: Olhares sobre o cuidado em saúde mental e o protagonismo de moradores de favelas.
Durante a abertura do evento, Monnerat destacou que a metodologia utilizada no levantamento das atividades culturais já está sendo replicada por instituições de pesquisa na Colômbia, Guatemala e Bolívia, com o mesmo propósito de avaliar os impactos da cultura na saúde mental.
O pesquisador da Fiocruz, Paulo Amarante, também participou da exibição e ressaltou o papel transformador da cultura. “As iniciativas culturais permitem que as pessoas se protejam, se organizem e se defendam coletivamente. A cultura tem esse poder de tirar o indivíduo do lugar do sofrimento e produzir vida”, afirmou o coordenador do projeto pela Fiocruz.
Amarante também destacou a abordagem inovadora da pesquisa. “Por muito tempo, o meio acadêmico se manteve como agente externo, que observa, extrai e publica. Por isso, optamos por uma metodologia participativa, não extrativista. A ideia era construir conhecimento junto aos territórios, respeitando suas vivências e saberes”.
Após a exibição do documentário, a diretora do filme Franciele Campos falou sobre o desenvolvimento do filme, e pesquisadores e estudantes participaram de um debate com artistas de Manguinhos sobre os resultados da pesquisa e os modos de relação entre academia e agentes culturais locais. Estiveram presentes a escritora Celeste Estrela e a mobilizadora cultural Cátia Nascimento, que declamaram poemas e cantaram para o público presente.
O filme recebeu um prêmio de Mérito Excepcional no Festival Internacional Documentários sem Fronteiras e foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema Feminino de Toronto. Lançado já com recursos de libras, audiodescrição e legendas em português, inglês e espanhol, Coisa de Favela em breve estará disponível em no YouTube. Enquanto isso, é possível assistir ao trailer através deste link.